segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Netflix | Nossas Noites



Assisti esta semana a um dos mais recentes lançamentos da Netflix, que saiu no finzinho de setembro depois de ter estreado no Festival de Veneza no mesmo mês. Me refiro a “Nossas Noites” (Our Souls at Night, no original), filme que traz nova parceria entre Jane Fonda e Robert Redford.

Basicamente o filme conta a história de um casal de septuagenários solitários, que são vizinhos de longa data, sabem da existência um do outro, mas nunca trocaram muitas palavras, e então, resolvem passar a dormir juntos para espantar a solidão. É, eu preciso confessar que não achei o plot do filme dos mais instigantes, mas só que no meio de mais uma madrugada insone, o que vier, é lucro, certo?

E ainda bem que veio.

Não esquenta o vinho não, pessoal!
(A propósito, essas taças estão na minha lista!)
Eu não quero comentar muito do filme (por mais que eu esteja me coçando para falar horas sobre ele), porque são as nuances que pesam aqui. O filme fala de como a vida vai passando e como nós fazemos e desfazemos laços, como lidamos com perdas, ganhos, opinião alheia, medo, saudade, arrependimento e claro, solidão.

Apesar do meu receio de contar demais, eu não preciso dizer que aos poucos, Addie e Louis embarcam numa viagem que não esperavam mais fazer. Aos poucos, e com muita sutileza, os dois passam a compartilhar sonhos, segredos e uma amizade surge arrebatando-os para uma vida da qual ambos já tinham aberto mão.

Acho belíssimo a proposta “absurda” ter vindo de Addie (Jane Fonda),  que apresenta a sua ideia a um Louis (Robert Redford) confuso e indeciso. Essa cena é muito singela e carregada de tensão, porque ela abre seu coração e expõe seus medos. Por sinal, é uma bela cena que abre o filme, logo depois de uns takes apresentando os principais pontos da cidade ao final de um dia.

A história se passa em Holt, um pacato vilarejo interiorano do Colorado, onde as pessoas conhecem-se todas, e onde carregam aquele hábito irrefreável de comentar a vida alheia. E é interessante como o filme toca nesse assunto, como desdenha da importância que damos à opinião de terceiros, mesmo em nossa velhice.

A trilha foi escolhida a dedo para este momento.
Não preciso dizer que Jane Fonda e Robert Redford são sensacionais em seus papéis, somando suas carreiras, temos mais de cem anos em frente às telas. Ambos desfilam com elegância e até uma certa ousadia pelos papéis. Não dá para não sentir o coração aquecido.

Um destaque precisa ser dado, no entanto, a Jamie, o neto de Addie de sete anos de idade, interpretado por Iain Armitage. O moleque está muito bem no papel, ligando Addie e Louis entre si, além de ser parte importantíssima na construção da nossa conexão com os protagonistas. Iain tem uma carreira bem promissora, tendo atuado na elogiada Big Little Lies da HBO, no drama biográfico O Castelo de Vidro, e agora estreia como protagonista, numa versão ainda criança do peculiar personagem Sheldon, de The Big Bang Theory, na sua série derivada chamada O Jovem Sheldon.

Queria ainda comentar o quanto a fotografia do filme é linda. E o quanto ela remete à solidão e àquela esperança que a gente sente quando encara o vento batendo contra as folhas de uma árvore num dia quente... A cena inicial, ao crepúsculo, brinca com o fato de estar anoitecendo (que é quando os personagens passam a dividir seu tempo) com o fato de que ambos estão entrando no crepúsculo de suas vidas. A trilha sonora recheada de country e jazz também pega nosso coração no laço para esse passeio.

O filme é baseado no livro de Kent Haruf, e foi o último que o autor escreveu antes de falecer, em 2014. Foi lançado aqui no Brasil pela Companhia das Letras e já está na minha lista de desejados.

Aqui tudo é delicado, é certeiro e é muito, mas muito bonito mesmo. Recomendo!

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