Hoje a dica de leitura vai para uma obra que figura, desde o seu lançamento em junho deste ano, na lista de livros mais vendidos do país (se não estou enganado, enquanto escrevo este texto, o livro ainda ocupa um dos cinco primeiros lugares na categoria 'Não Ficção'). No entanto, o tema que Lázaro traz aqui, precisa ser debatido, repetido, compreendido, até que ele consiga entrar na nossa cultura, que passe a ser comum a todos nós.
Na Minha Pele traz um Lázaro Ramos afiado e sucinto, num texto informal, mas nem por isso menos importante e seguro. O livro é um apanhado de reflexões sobre a questão do negro, onde Lázaro apresenta experiências e histórias com as quais busca causar reflexão no leitor, tenha ele a cor que tiver.
Na minha humilde opinião, apesar de ter pego lista de mais vendidos no país, esse livro ainda chegou em poucos lares. Você, sua mãe, seu pai, seus amigos, deveriam todos estar discutindo sobre o que está escrito aqui. Lázaro insere todo o seu carisma e pega a mão do branco leigo numa jornada através do racismo e do privilégio, sempre deixando claro o quanto se considera uma exceção como caso de sucesso.
O cara faz aquela histeria em volta da Magayverização do Rodrigo Hilbert parecer papo de criança. Aqui habita um legítimo HOMÃO DA PORRA!
Recomendo demais esse livro, entrou pra minha lista de prediletos e com certeza vou presentear amigos com ele.
Para hoje, um pouco de poesia. Para hoje, algumas Notas Sobre Ela, novo livro de Zack Magiezi, autor de Estranheirismo, livro que habitou por semanas as listas de mais vendidos do país.
Em Notas Sobre Ela, Magiezi traz uma proposta pouco usual para a poesia. O livro é um apanhado de textos narrando as várias fases da vida d'Ela, a protagonista, em diferentes momentos de sua existência, da infância à velhice, tudo divido em blocos. A gente acompanha a garota, assim, sem nome... e ela vai vivendo e a gente vai desvendando seu crescimento.
O que mais chama a atenção na poesia de Magiezi em Notas Sobre Ela, é a delicadeza com a qual ele passeia por todas as páginas criando uma só personagem, contando uma só história.
Em certos momentos você sente o cansaço que esse ideia deve ter causado. Volta e meia fica subentendida a vontade de fazer d'Ela, a mulher ideal, a mulher com a qual todas nós possamos nos identificar. Mas nada disso apaga o brilho da construção da obra.
E na verdade, pensando melhor aqui, com isso o livro consegue algo que talvez o autor nem tenha planejado fazer. Ela aparenta ser perfeita demais, Ela aparenta ser forte demais, mas quando a gente mergulha n'Ela, vê que ali habitam os mesmos receios, as mesmas vicissitudes que eu, você, seu melhor amigo ou amiga, seu namorado, sua mãe talvez tenham.
Tentando construir a personagem idealizada, Magiezi faz o que se espera da protagonista: Ela quer ser a melhor versão de si mesmo.
O livro tem capa dura e um formatinho de bolso, (18x12 cm), é todo produzido em papel reciclado, o que dá uma cara incrível para um presente especial. Entre as fases da vida da protagonista, o livro traz umas ilustrações a caneta que ajudam a compôr a cara de carta/diário que a obra inteira exala.
Eu achei tão bonito que prometi presentear alguém com o meu, mas tô com uma dó tremenda de me desfazer dele (ao mesmo tempo, quero comprar mais uns seis para mandar para várias mulheres incríveis que habitam minha vida).
É poesia, inclusive para quem não gosta de poesia, no entanto, não tem a intenção de ser o melhor texto que você vai ler, porque é limpo das complexidades do habituais do gênero. Alguém já conhecedor desse universo talvez até caminhe com um pé atrás, mas os textos são lindos e pegam o leitor pela mão e o levam pra passear, inserindo alguém que talvez de outra forma não viesse a conhecer poesia.
Ela (a personagem) te faz querer abraçar suas amigas, fazer cócegas em sua filha, beijar sua mãe e encher sua esposa de amor eterno para sempre amém! Te põe pra refletir e sentir e calar e ouvir ao redor, esse silêncio... ouviu? ahhh... isso ele faz muito bem!
Em Agosto de 2015, poucos meses antes do lançamento de Star Wars: O Despertar da Força, a gente gravou esse vídeo aí abaixo, com tudo que tinha disponível de Star Wars nas prateleiras brasileiras. Na época, o livro do texto de hoje ainda não tinha sido lançado, por isso vamos de textão sobre ele!
Hoje a gente vai falar de Star Wars: Estrelas Perdidas (no original Star Wars: Lost Stars), da autora Claudia Gray (lançado aqui no Brasil pela Seguinte, selo jovem adulto da Companhia das Letras), que faz uma excelente mistura de tudo o que esse universo tem de melhor: cenas fantásticas de batalhas espaciais, intrigas políticas, romance proibido e personagens envolventes.
Claudia, que começou escrevendo a série de vampiro Evernight, (publicada aqui no Brasil como Noite Eterna), já tem experiência com a mistura de romance jovem adulto e aventuras baseadas em ficção científica. É dela, por exemplo, a série Firebird, romances que falam de viagem temporal e colecionam críticas positivas (e capas maravilhosas). A autora tem uma escrita esperta, dosando bons plot twists ao longo da trama, e excelentes ganchos entre os capítulos, o que mantém o leitor virando páginas de maneira voraz.
Mas e o livro, Filyppe? É, é verdade, vamos ao livro...
Star Wars: Estrelas Perdidas, traz um romance carregado de drama shakesperiano utilizando o universo de Star Wars como pano de fundo, especificamente a trilogia clássica, mas indo além, abrindo espaço para os eventos de Episódio VII.
Nele somos apresentados a Jelucan,último planeta a ser anexado ao Império, oito anos após a queda da Velha República e aos acontecimentos ocorridos no Episódio III. Temos um planeta habitado por duas ondas de colonizadores, a primeira que foi quem meteu a mão na massa e tornou o lugar habitável e a segunda, do pessoal arrumadinho e bonitinho que chegou lá depois que já estava tudo organizado e funcionando. O resultado disso é que as duas colônias não se dão bem, a primeira acha a segunda esnobe e engomadinha e a segunda acha a primeira um grupo tosco e pouco inteligente.
No dia da festa de anexação ao Império, no entanto, um jovem da segunda onda, Thane Kyrell, acaba impedindo Ciena Ree, uma garota da primeira onda, de se meter numa briga feia com outros garotos. Ali se forma uma amizade que, de certa forma, é apadrinhada pelo grão moff Tarkin (o braço direito do Darth Vader).
Eles descobrem possuir muito mais em comum do que as aparências deixam ver, e passam a se encontrar várias e várias vezes, no começo, apenas para treinar vôo em uma velha nave da família de Thane, já que a família de Ciena não tem uma condição financeira tão privilegiada. No entanto, com o tempo, passam a querer dividir a companhia um do outro o tempo todo, mesmo contra a aprovação de suas famílias.
Anos mais tarde ambos vão estudar na Academia Imperial de Coruscant, onde por conta da rotina, acabam se aproximando cada vez mais. Até que, ao final do primeiro ano letivo, se vêem envolvidos na sabotagem de um projeto e acabam se distanciando. Os dois se formam na academia, e apesar da distância agravada por suas imensas diferenças de personalidade, descobrem nas coisas em comum, que se gostam mais do que como amigos. Acontece que bem aí (tcham-tcham-tcham-tchaaaaam) seus destinos são separados, quando Ciena é designada para o Destróier Estelar Devastator, enquanto Thane é enviado como piloto de TIE Fighter para AQUELA BASE SECRETA (SIM, É DA ESTRELA DA MORTE EM PESSOA QUE ESTAMOS FALANDO!)
O livro passeia ao longo da trilogia clássica falando de moral, honra, fé, ideologia, achar seu lugar no mundo, medo, vergonha, sonhos e amor, muito amor. Ciena e Thane viajam pela galáxia buscando uma resposta para seus dilemas inquietantes, sentimentais e filosóficos, enquanto fazem o que sabem fazer de melhor, pilotar suas naves e lutar pelo que acreditam (e às vezes, pelo que não acreditam também).
Eles estão lá durante a captura da nave de Leia, a explosão da Estrela da Morte, a Batalha de Hoth, a Batalha de Endor… e até depois dela, na Batalha de Jakku (esse é aquele planeta onde a Rey mora, aquele onde ela invade um Destróier Estelar caído em sua superfície, n’O Despertar da Força, lembra?). Quem assistiu aos filmes da franquia, vai se deliciar com todas as referências.
Volto aqui à escrita da Claudia Gray, que num jogo de capítulos intercalados, traz os fatos mais importantes da série visto pelos olhos de gente comum, da mão de obra do Império ao soldado voluntário da Aliança Rebelde. Dadas as diferenças de personalidade entre os dois, esse caminho era o único possível de ser trilhado. É nas pistas de decolagem, nas salas de comando, na ponte de destróieres, no cockpit de X-Wings que vemos a diferença principal entre o livro e a franquia dos cinemas. A força d’A Força aqui é quase inexistente e o poder dos jedis é praticamente motivo de piada. É um romance militar, um Romeu e Julieta nas trincheiras de uma guerra nas estrelas que vai da queda da República até depois da queda do Império.
Um parêntese mais ou menos médio aqui:
Estrelas Perdidas foi lançado como parte da Jornada Para Star Wars - O Despertar da Força, que foi desenhada para ser a ponte entre os acontecimentos da trilogia clássica e que, na época, era o filme mais recente da franquia. Havia muita expectativa, porque era a primeira vez que veríamos um filme novo do cânone no cinema depois de 10 anos, desde o lançamento do Episódio III, em 2005. Para o lançamento desta película foram produzidos diversos quadrinhos, livros juvenis ilustrados, romances jovem-adulto e adulto, além de guias de batalhas, guias de naves, enfim… Para conferir a lista completa de todo o material produzido, assopre o seu indicador e clique beeeeeeem aqui.
Toda essa explicação foi para situar o não-fã (e o fã que morava embaixo de uma pedra, ou o fã que conheceu o universo de 2015 para cá) da importância deste livro. Era a primeira vez que um material oficial da série traria acontecimentos posteriores aos passados no Episódio VI, último filme da série até então. Tudo ali era novidade e isso é parte do que faz esse livro tão importante.
Personagens verossímeis e cativantes, acontecimentos inéditos na franquia, batalhas bem descritas e um romance fadado ao fracasso, fazem deste um livro imperdível. Estou chateado por ter demorado tanto a lê-lo.
Se você gosta de romance e não assistiu Star Wars, esse livro vai fazer você querer ter visto a série.
Se você já gosta de Star Wars, esse livro vai fazer você querer ver tudo de novo!
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E hoje nós vamos falar de “Os Dois Mundos de Astrid Jones” (“Ask The Passengers” nome original que eu, particularmente, prefiro), lançado pela Editora Gutenberg em 2015, obra de Amy Sarig King, que assina como A. S. King, por muito tempo escreveu textos que pretendiam ajudar os adolescentes a entender melhor os adultos e vice e versa, tentava definir seus escritos em alguma categoria, para assim descobrir em qual gênero se encaixava e essa busca a levou ao mercado de jovens adultos. Suas obras foram indicadas a vários prêmios importantes da literatura.
A história gira em torno de Astrid Jones, adolescente de 17 anos, moradora de uma cidadezinha pequena, que está em busca de sua identidade. Sua sexualidade é ponto chave dessa indagação. Jones que ao se mudar para essa cidade se vê em um lugar onde todos vivem de aparência e buscam a perfeição, não se ajustou a essa realidade e se encontra cercada de pessoas intolerantes. Nesse ambiente ela não se sente à vontade com ninguém para compartilhar seus pensamentos mais íntimos, que com certeza, não se encaixam com os padrões que a rodeiam. Com isso, se pega sozinha deitada na velha mesa de piquenique para refletir sobre a vida e quando passa um avião, ela se sente trocando confidências com os passageiros (já que eles não podem julgá-la)… E transmitindo amor, que acredita que um dia voltará para ela, como uma onda.
Nessa trama, Astrid entende que de fato cada um tem seu comportamento, pensa o quanto deve respeitar as escolhas alheias, mas ninguém parece fazer o mesmo por ela. E ainda vai mais a fundo, acaba percebendo que tem coisas que não são questão de escolhas, e sim de descobertas. O fato de não saber ainda sobre si, a deixa insegura por conta de quanto as pessoas que a cercam estão presas em seus preconceitos.
No decorrer da história você percebe que duas pessoas podem estar sofrendo a mesma coisa sem que seja pelo mesmo motivo, você percebe como essa conexão de sentimentos são fortes, e gentileza e compaixão ao próximo são importantes, sendo para com um desconhecido ou com alguém próximo a você. Isso passa ao leitor de uma forma muito direta, quando Astrid deitada na mesa do seu quintal olhando os aviões, a autora descreve a história de um dos passageiros daquele vôo com as mesmas aflições de Jones, mas em um enredo completamente diferente.
Acredito que essa é uma obra importante para o universo LGBTQ, mas é ainda mais fundamental para jovens que não aceitam esse meio, ou como eu, que apesar de respeitar imensamente, encarava que tudo poderia ser apenas uma questão de escolha.
A palavra certa é empatia, com isso podemos entender Astrid e o mundo ao nosso redor…
Vai, você tem que ler isso.
Para ler:
Os Dois Mundos de Astrid Jones: Livro Físico (livro físico com 30% de economia durante a publicação deste post) eBook Kindle (eBook com 60% de economia durante a publicação deste post)
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Hoje no blog vamos sobre Amor Amargo, segundo livro lançado de Jennifer Brown, lançado no Brasil pela Editora Gutenberg. Além da capa incrível, o livro trata de assunto pouco explorado no universo juvenil, mas, infelizmente, bastante presente em diversos casais que é o relacionamento abusivo.
Jennifer, que durante o curso de psicologia fez um trabalho sobre violência doméstica, queria entender mais do que se passava na cabeça de quem sofre esse tipo situação. Ela buscou entender o que se passava no coração da vítima e o resultado dessa pesquisa acabou resultando nesta obra, realizada com maestria.
O livro se passa durante último ano escolar de Alex, que com dois melhores amigos, Zach e Bethany, tem uma promessa de infância de viajar até o Colorado, mesmo caminho que sua mãe estava realizando ao sofrer um acidente de carro que a levou a óbito. O Dia da Viagem se aproxima e tudo corria bem, até que Cole apareceu.
Com a leitura você percebe como tudo é muito rápido, a relação começa, pouco depois os episódios de violência acontecem e vão ficando cada vez mais intensos e Alex resolve não contar pra ninguém, porque assim fazendo, teria que explicar como tudo começou e se enche de vergonha. Enquanto lia, quase me pegava concordando com ela, de tanta dor que o texto emana, mas foi só o pensamento tomar forma para eu suplicar para que Alex peça ajuda o quanto o antes.
Sinto que o livro deveria ser obrigatório, principalmente para os jovens, para notarem quando estiverem em um relacionamento desse tipo. Ao ler, você descobre que não precisa da força física usada por Cole para sentir tudo que Alex passa. Na verdade, o mais incrível da leitura, que Jennifer fez de modo palpável, é mostrar como os socos, pontapés, cara no asfalto, puxões de cabelo e afins não doeram em nada comparado ao que ela sofria ao ver que depois de dias escondida em casa para os hematomas físicos melhorarem, o coração continuava em pedaços que ela resolveu não colocar mais no lugar, já que sentia que uma hora ou outra ia se despedaçar outra vez.
Ao terminar a leitura, senti meu coração desfigurado junto com o de Alex, mas não de um jeito ruim, porque vejo que assim como o dela, os pedaços estão por aqui, em algum lugar, e quando criar forças eu volto a juntá-los para me descobrir cada vez mais forte.
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